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Domingo, 6 de Julho de 2008

2º Classificado

2º Classificado

Texto nº 30
Titulo: Retalhos de uma escola
Ricardo Jorge Da Cunha Delgado

61 Pontos

 

 

Já tínhamos as mochilas prontas á espera que suasse o ultimo toque do dia. Pelas janelas notava-se alguma agitação lá fora. Estávamos curiosos mas a professora fez-nos esperar pelo toque, apesar de há muito ter deixado de dar matéria. O Evandro havia feito das dele, mais uma vez. Já se havia tornado um hábito em quase todas as aulas; dependia muito do limite de tolerância que cada professor estabelecia. Só á primeira hora é que foi expulso logo no inicio da aula, parecia mesmo que estava a pedi-las. Nas outras, apesar de ter estado bastante agitado, manteve-se em sala. Na ultima hora também não foi convidado a sair , mas recaíram sobre ele as culpas da matéria ter ficado a meio e de ter prejudicado os colegas. Acho que este tipo de pressão não encaixa muito bem em colegas como o Evandro.
                Quando saímos da sala de aula o Germano já sabia o que se passava. Deslocou-se rapidamente para junto do Evandro e descemos junto as escadas.Á porta do nosso pavilhão estavam já quatro rapazes de outra turma que ali aguardavam pelo Evandro e pelo Germano. O grupinho juntou-se rapidamente e começaram a falar em voz baixa. De repente reparei que se dirigiam para o pavilhão desportivo, não sei o que iriam fazer.
                -Germano, onde vão? – Ainda perguntei, enquanto se afastavam.
                -O que se passa? – Não me respondeu e eu continuei o meu caminho, juntamente com os restantes colegas , em direcção á saída. Enquanto descíamos reparámos que estava um carro da policia estacionado ao portão da escola. Não era da Escola Segura como estávamos habituados a ver, quase que diariamente , mas sim um azulão.
                Um dos polícias falava com o director da escola e com o Sr. Vitor, o porteiro. Já tinham identificado o aluno e pelo que me apercebi ele teria usado uma faca de cozinha, logo á primeira hora da tarde, para roubar um HiPod de um colega de outra turma. Este reagiu e terá ficado ligeiramente ferido. Apresentou queixa e o cenário estava montado.
                Segui na mesma direcção que tomo todos os dias no regresso a casa. Era já noite mas pareceu-me ver ao longe, nas traseiras escola, já fora da vedação, o Evandro a esgueirar-se sozinho. Haviam se separado após terem saído da escola por trás do pavilhão desportivo, pensei , para mais facilmente se misturarem na noite que já havia caído.
Parte 2
                -Passa a bola, João! – Gritei mais uma vez procurando desmarcar-me. Ele pareceu não me ouvir e seguiu com a bola endereçando-a a outro colega.
                -Aqui, solta a treta da bola ,Nelson! – Berrei novamente sem que o meu esforço tenha produzido qualquer efeito. Desisti, éramos apenas quatro contra quatro e eu apenas tinha direito a tocar na bola quando a conseguia recuperar. Dirigi-me para junto dos outros colegas, sobre o olhar repreensivo do professor.
                - O que se passa contigo José? – Lançou a pergunta enquanto eu me sentava junto do Rui.
                - O professor não vê? Ou prefere fazer de conta que não vê? - respondi-lhe de imediato sem meditar. Talvez lhe deve-se ter dito que sai do campo porque estava a ser completamente ignorado pelos colegas de equipa. Talvez lhe deve-se ter dito que existem variadíssimas formas de se praticar racismos, mesmo numa equipa composta por quatro colegas de raça negra. Mas preferi fazer uso da falta de educação.
                De imediato o professor mandou entrar para o campo outro colega que me substitui-se, mas não sem antes se virar na minha direcção: - mais tarde conversamos – disse, irritadíssimo -, a sós, no final da aula. – Simplesmente ignorei-o.
                O Rui, colega habitual de carteira , de raça branca , colocou então a mão em cima do meu ombro esquerdo. Levantei o rosto e rodei-o na sua direcção. Antes que ele abrisse a boca disse-lhe: -Ouve men , nem imaginas a revolta que sinto.
                -Ele apertou-me o ombro com mais força e desabafou: - Não sei porque continuas a não acreditar em mim quando te digo que o maior racismo é aquele que se vive entre colegas da mesma cor.
Parte 3
                “Ñ tens juízo nenhum”. Recebi assim um SMS da Ângela , enquanto a professora descarregava matéria no quadro. Olhei de imediato para ela e a sua cabeça acenava-me com um sinal de reprovação, forçando ao mesmo tempo os maxilares para não sorrir. “K foi?” respondi, “Já ñ axs graca ao k faxo”. Ela voltou a colocar o telemóvel sobre as pernas debaixo da mesa e leu a mensagem. Olhou depois para mim e , no seu ar angélico de menina , sorriu levemente num gesto de aceitação. “Sabes k tenho medo k exas parvoíces k fazes n aula t levem a conselho”. Ela preocupava-se comigo. Gostava de mim , a ponto da minha presença perturbar a aula e ela aceitar essa situação. “Ñ t preocupes cmg ja t dixe”, respondi-lhe de imediato. Eu era responsável pelos meus actos e assumia-os até ao fim. Ela era demasiado importante para mim, mas eu era um líder naquela turma e um líder tem que o demonstrar. De repente a professora aproxima-se da Ângela e, num gesto rápido , tira-lhe o telemóvel da mão. Ela ficou espantada, sem palavras nem reacção. Nós sabemos que não é permitido ter o telemóvel ligado nas aulas mas quase todos os fazem. – Angela – Disse-lhe a professora já sentada na sua secretária - , o telemóvel está aqui em cima. Podes-te levantar , vir aqui buscá-lo e sair da sala de aula. – Ouviram-se algumas bocas do fundo da sala, mas a turma estava tão espantada com a situação que não teve arte nem engenho para se aproveitar do momento. Eu estava incluído.
                A Ângela ainda prenunciou um “mas” antes de desatar a chorar, afundado de seguida a cabeça entre os braços. A colega do lado colocou-lhe a mão por cima da cabeça, tentando confortá-la. Ela levantou-se bruscamente e , com os olhos em lágrimas, dirigiu-se á secretária da professora , resgatou o telemóvel e bateu com a porta da sala de aula.
                Desci as escadas saltando de três em três os degraus que me pareciam eternos dirigi-me para o poço pois imaginava que ela lá estivesse. A Ângela não se apercebeu da minha chegada, até que lhe toquei no ombro.
                - O que fazes aqui, Diogo? – Perguntou-me, levantando o queixo na minha direcção. – Devias de estar na sala …, a aula ainda não acabou!
                - Não te preocupes comigo, já te disse! – Sentei-me junto a ela e, com o braço direito ,puxei-a com imensa ternura de encontro ao meu ombro , beijando-a na nuca.
                - Ser adolescente é isto mesmo, é poder quebrar as regras.
publicado por Paulo Condesso às 21:14
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2 comentários:
De Ricardo Delgado a 7 de Julho de 2008 às 15:09
Eu gostaria de saber porque é que na passagem do texto original para o blog existem divergencias; quer gramaticais, quer de estrutura?
De Paulo Condesso a 8 de Julho de 2008 às 22:50
Em virtude de termos recebido os textos no formato papel, para que este fosse exibido no Blog , tivemos que o passar em computador , o que fez com que tivéssemos alguns enganos , já corrigidos ,pelo que pedimos desculpa.

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